
Quando o homem iniciou o pensar lingüístico – e isso começou na Grécia Antiga – eles acreditavam que bastava dar nome a alguma coisa que ela passava a existir. Isto ainda é tão real em nossa cultura que popularmente as pessoas costumam dizer: "Não fala no diabo porque senão o rabo aparece." Aqui não irei falar sobre a história do pensamento linguístico, mas sobre fantasmas. Sim, irei me referir aqui não aos fantasmas que estamos acostumados a ver nos filmes, na TV ou nos livros... falo de fantasmas no sentido psicanalítico.
Esses fantasmas, monstros ou criaturas afins – como você queira chamar – nos cercam, nos torturam em nosso interior. A maioria de nós não se dá conta de que eles habitam em nosso interior.
Ao longo das sessões de analise deparei-me com uma dessas criaturas. Então parei para refletir sobre eles e cheguei a algumas conclusões.
Eles nos acompanham desde antes do nosso nascimento. Estão conosco há gerações porque já atormentavam os nossos pais. Eles sobrevivem em nosso interior. Sim, sobrevivem – essa é a palavra mais adequada – porque estão em constante embate conosco. Ocorre um verdadeiro processo de simbiose, somos os hospedeiros, porém em algum momento o nosso aparelho psíquico percebe que há algo a mais, que há algum corpo estranho, então, ocorre um processo de rejeição e isso gera angustia. Na maioria das vezes, não nos damos conta do porquê de tanta angustia. Mas o pior de tudo, é que sempre acabamos dando todo o sustento para essas criaturas, e assim, elas deixam de sobreviver e passam a viver em nós. No fundo do processo de angústia está essa sustentação que concedemos a tais criaturas.
Para interromper este processo é necessário tomarmos consciência de que, de fato, esses seres existem em nós. Acredito que esta deva ser a etapa mais difícil do processo. E assim, retomo o pensar grego. Precisamos nomear, descobrir o nome desse ser, para que assim, eles passem a existir.
Confesso que há algumas semanas atrás descobri o nome de um dos meus fantasmas. Não pense que foi fácil chegar até aqui, mas foi assustador, assim como acontece nos filmes que vemos.
Para diminuir esse processo de angustia – e que fique claro que nunca iremos nos ver livres dele – é necessário interromper o processo de simbiose para que assim o EU possa realmente dar as caras. Essa manobra gera a sensação de renascimento, de que as coisas corriqueiras estão sendo praticadas pela primeira vez.
Essa sensação de viver as situações ordinárias pela primeira vez, tem a ver com uma etapa que chamo de rearranjo. É a etapa na qual se começa a colocar tudo no seu devido lugar, é o inicio de uma arrumação interior. É preciso parar de alimentar os monstros e começarmos a canalizar a energia psíquica para onde realmente é necessário, para o EU. Por isso, vem a sensação de primeira vez, porque foram tantos os anos alimentando tais criaturas, que nos esquecemos do gosto, da sensação de se fazer as coisas por nós próprios. Na verdade, nos esquecemos de como é viver por nós mesmos, de sermos protagonistas de nossa vida.

Tarciso Manfrenatti
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