
Sim... é como se as cortinas tivessem sido abertas e, assim, permitissem que a luz começasse a entrar. Estes pequenos filetes de luminosidade tocam a minha pele e transmitem a sensação de calor, de conforto e de certeza...
Não sei o que está acontecendo, não sei para aonde estou indo, não sei o que irei encontrar pela frente, tenho medo, sim; mas tenho uma certeza, a certeza de que estou caminhando, de que estou indo embora, de que estou me despedindo.
- Despedindo-me de você? Acho que não.
Para você sempre estarei aqui, com um sorriso, com uma lágrima nos olhos, pronto para te ouvir ou para te dar um abraço. Mas estou indo embora de mim. Não me conheço mais, não sei mais quem eu sou, só sei que sou um estranho pra mim.
Sinto como se estes raios estivessem tomando as minhas mãos, dominando os meus passos, a minha cabeça... não me deixam pensar, não me deixam parar, não me deixam ver outra coisa a não ser o abismo do qual me aproximo.
- Quero me atirar! Mas tenho medo.
Paro e contemplo o infinito, na linha do horizonte várias imagens são desenhadas, as mãos habilidosas saem das regiões abissais. As imagens são tantas quanto o infinito, o engraçado é que em cada uma delas eu consigo ver a meu rosto, não totalmente, mas partes de mim.
- Sim! O que está diante de você é apenas uma parte de mim.
Os raios de luz acalentam-me, mas não tenho medo das trevas, acho que elas não são tão assustadoras assim. As trevas estão me passando tranqüilidade e me dando segurança. Mesmo assim, tenho medo de me lançar porque, se eu me atirar, não terá mais volta.
- Será que terá volta?
Eu acho que não, pois nos desenhos que vejo não sou mais eu. As cortinas poderão se fechar, os raios de luz poderão parar de me aquecer, aquelas mãos poderão parar de bordar, mas eu não voltarei.
Tenho muito medo de me lançar, de ser embalado e acalentado pelas sombras, mas de uma coisa eu tenho certeza, já me atirei! Eu permiti que os laços me puxassem, me precipitassem no infinito, no inexplorável, no inenarrável, no incomensurável... Eu...
_ ...você está ai?
Tarciso Manfrenatti de Souza